É sério?

Texto e foto de Valéria del Cueto

É praia, é mar, é dia, é Rio. Tudo substantivo perfeito se não fossem… os adjetivos que acompanham. É praia “chocha”, é mar gelado, é dia nublado. É Rio…

Só rindo para sobreviver. Sorte que sempre há razões para ele, o riso…

No meio a tantos acontecimentos e ventos, mais uma vez, vem do carnaval o enredo que nos faz dar risada da própria (des)graça. E mistura tudo: celebridades, política, carnaval…

Finalmente chegamos a 2018. Demorou mas conseguimos dobrar o cabo da Boa Esperança e partir para a preparação da próxima folia. E foi aí, já na fase de definições dos enredos, que despontou um saboroso imbróglio momesco da nova temporada.

Diz a lenda que algumas agremiações foram sondadas, vamos dizer assim, para serem premiadas com um polpudo (e nada desprezível) aporte de 6 milhões de reais caso aceitasse desenvolver seu carnaval exaltando uma incrível e imprescindível personalidade nacional, o apresentador global Luciano Huck!

Segundo a imprensa especializada as escolas de samba do grupo de elite do carnaval carioca procuradas para tal empreita foram o Salgueiro e a Estação Primeira de Mangueira.

Afinal, o que o Huck tem a ver com o carnaval do Rio de Janeiro, além de ser o promotor do concurso que elege todos os anos a Musa do Caldeirão?

Não pescou? Acontece que o mauricinho paulista tem pretensões (altas, diga-se de passagem) de se lançar no pleito eleitoral do ano que vem. Nada como uma over exposição planetária, embalada por um samba exaltação conduzido por uma bateria nota 10, tendo como coadjuvantes destaques, passistas e componentes de uma agremiação tradicional carnavalesca, para consolidar e amplificar a imagem do espevitado futuro “novo” na política brasileira.

Os ecos dessa oferta reverberaram nos meios de comunicação. Logicamente não apenas entre os ligados a festa carioca.

Com o vazamento das recusas das duas agremiações, a assessoria do apresentador negou a iniciativa. Informou que ele foi procurado por um compositor, uns três ou quatro meses atrás, que queria escrever um samba-enredo sobre ele e oferecer para as escolas. Luciano não aceitou. Algumas publicações abriram aspas: “Usaram meu nome indevidamente”. É claro que tal informação só veio a público após as recusas, não quando ainda havia “diálogo” entre as partes.

Por um lado, diante da crise instalada no carnaval carioca alguns anos antes da quebradeira geral brasileira(desde 2013 os grandes eventos, como Copa do Mundo e Olimpíadas, que aconteceram no Rio e no país, disputam centavo a centavo as verbas de patrocínios com o carnaval), deve ser aplaudido o negaceio a uma “bufunfa” garantida e a mega/hiper/exposição que teria a escola do filho dileto da Globo, detentora dos direitos de transmissão do evento.

As agremiações sondadas devem ter feito um balanço das perdas e danos, inclusive o desgaste na imagem, por sucumbir ao “l´argent” e incluir no seu histórico de enredos um tema tão relevante, original e, cá para nós, rico em significado cultural.

Por outro lado, a reação do pretendente à negativa, jogando a responsabilidade para terceiros, já nos mostra que uma lição da política ele aprendeu e aplica direitinho. Quando nas cordas, apele para a infalível versão do “eu não sabia”. É quase lona, mas fica a dúvida.

É sério? Pela cabeça de quem passaria um enredo desses nas comemorações dos 90 anos da verde e rosa, a Estação Primeira de Mangueira?

Mas… como o samba é generoso apareceu na rede um presente de consolação. O “clip” do samba exaltação ao evento não consolidado.

Eis a obra:

Na aristocracia desponta um nariz descomunal

Com vontade de se enfiar no pleito eleitoral

És abastado,  dotado de milhões

O Brasil vai entrar na linha com o pai da Tiazinha

Firma o batuque que eu pago um duque,

Luciano Hulk…

Sou play boy, mas e daí?

Trago comigo o faz-me rir

Para quem me levar para Sapucaí!

(#marcheiros) https://youtu.be/yh7Yzx0bfNU

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É Carnaval”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Edição Enock Cavalcanti

Diagramação Luiz Márcio – Gênio

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