Expulso do inferno, proibido de entrar no céu e 22 anos sem título? Acabou o aperreio!

Lampião conquista a Sapucaí, a Imperatriz é campeã.

Texto, vídeos e fotos de Valéria del Cueto

E teve gente que reclamou do enredo da Imperatriz Leopoldinense, criticando os feitos do lendário cangaceiro Lampião. “Homenagear um estuprador, um bandoleiro?”, questionavam os rigorosos críticos politicamente corretos de plantão.

Carnaval é, e sempre será, porque se alimenta da contradição, uma festa que subverte a ordem. Lampião faz parte desse imaginário popular. Bandido para uns, herói para muitos que acompanharam as aventuras de seu bando pela caatinga nordestina.

Foram 22 anos de espera, o rebaixamento de 2019, o campeonato no acesso em 2020 e 10a colocação em 2022 no Grupo Especial. A Imperatriz Leopoldinense correu trecho até conseguir mais uma conquista. Um caminho tão longo quanto o título do enredo do carnavalesco Leandro Vieira: “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”.

Expedita Ferreira, filha de Virgulino, aos 90 anos festeja seu pai Lampião

Nas comemorações, vindos dos lados de lá, os dois nomes mais citados (depois do cangaceiro)? O do ex-presidente Luizinho Drumond, patrono da escola, e o da lendária porta-bandeira Maria Helena. Entre os do lado de cá, a mais lembrada foi a comunidade do Complexo do Alemão que abraçou o projeto do carnavalesco e da presidente Cátia Drumond.

Campeã da Série Ouro, a Porto da Pedra volta ao Grupo Especial

Agora é festa e, depois, pensar no futuro da festa. Começando pela Marquês de Sapucaí. Reformada para o carnaval de abril de 2022, vários reparos são necessários, como o da água que escorria no segundo módulo de julgamento na Série Ouro. O fechamento das saídas de emergência da pista prejudica, por exemplo, a eficiência e agilidade da retirada de desfilantes acidentados pelos maqueiros. Melhor parar por aqui porque a lista é grande e nem chegamos nos super camarotes que estão substituindo as frisas.

Comissões de frente, grandiosidade questionada.

Na estrutura dos desfiles, a altura desproporcional dos tripés, palcos das apresentações das comissões de frente, precisa ser revista. Apresentar a escola é uma coisa, esconder o pavilhão e a dança dos casais que vem na sequência outra bem diferente.  Essa ordem dos fatores não corresponde ao melhor produto. O símbolo máximo da escola e o bailado do mestre-sala e da porta-bandeira têm precedência sobre qualquer outro quesito na apresentação da agremiação. Hora de acabar com a megalomania e ter mais humildade para pedir passagem…

Marcella Alves e Sidcley, do Salgueiro, único casal que gabaritou os 40 pontos

DESFILE DAS CAMPEÃS – Grande Rio, Mangueira, Beija-Flor, Vila, Viradouro e Imperatriz

Banho na caixa d´água, cotidiano da baixada na Grande Rio de Zeca Pagodinho

A noite das Campeãs começa com Zeca Pagodinho lá no quintal, em Xerém, Duque de Caxias. Na Grande Rio a festa é animada, super colorida e faz um pedido irresistível para quem não quer que o carnaval acabe: “levante o copo para o povo brasileiro…”    

A força do chão verde e rosa. Resista se for capaz

A pista fica com a Mangueira, na levada da Timbalada e outros ritmos, com o enredo “As Áfricas que a Bahia canta”. A nação verde e rosa faz a conexão entre o samba baiano e “o Ilê de tia Fé, axé Mangueira”. O destaque é a força de seu chão e a pegada da bateria 4.0 “Tem que respeitar Meu Tamborim”, mais uma vez gabaritando.

Ala das baianas da Mangueira, tradição e nota 10 em fantasias

A Beija-Flor, terceira a se apresentar, inovou em seu desfile utilizando a nova iluminação cenográfica da pista. Perdeu décimos preciosos nos quesitos alegoria e adereço, além de enredo com a proposta de “reposição de marca” dos símbolos brasileiros. Destaques para os ícones da comunidade nilopolitana: Neguinho da Beija-flor, o samba, a bateria e o casal Selminha e Claudinho.

O resgate da brasilidade no desfile da Beija-Flor

A Vila Isabel de Paulo Barros pecou em quesitos plásticos. Mas tem magia para encantar os olhos curiosos que não perdem por esperar as performances dos monges Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas que se transformam em mestre-sala e porta-bandeira em frente ao público da Sapucaí.

Sabrina Sato, rainha de Bateria da Vila Isabel

A comunidade de Niterói é a penúltima a se apresentar. A Viradouro, com a incrível história de Rosa Maria Egipcíaca, ficou a um décimo da campeã. Mestre Ciça (uma raridade) não alcançou a nota máxima de bateria e, certamente, vem pra pista incorporado em seu personagem no enredo, um representante da Santa Inquisição para mostrar sua expertise.   

Contemporaniedade na pista: Arte cinética no carro da Viradouro

A Sapucaí será tomada pelo bando de Lampião no final da noite. É a comemoração de uma conquista durante muito tempo aguardada e que vem nas mãos de um filho querido. Leandro Vieira retorna à escola, a que ajudou a subir para o Grupo Especial há 2 carnavais, e se joga nos braços da comunidade invertendo, mais uma vez, a (des)ordem do imaginário popular. Deu no que deu. Lampião é o dono do pedaço e, quem sabe, pode até convidar Deus e o Diabo pra festança. Afinal, graças a eles, deixou registrado no carnaval carioca mais um capítulo de sua história de cordel… 

Lampião e a coroa da Imperatriz no caminho vitória, a Apoteose

O desfile das Campeãs do RJ será transmitido no sábado, no Multishow, Globopay e G1 a partir das 21:15h, horário de Brasília.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É carnaval”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

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