No carnaval do Rio não há crise… de alegria

Texto e foto de Valéria del Cueto

Não adianta chororô, nem mimimi. Pode ter crise econômica, protesto do “agro” e mudanças no regulamento. É do jogo. Nada atrapalhará a maior festa popular do mundo. A única coisa que não pode ser prevista nem contornada é a chuva. Ela, sim, um imponderável sem possibilidade de controle. E há previsão…

As novidades de 2017 começam na estrutura do espetáculo definida pelas alterações no regulamento da Liesa, a Liga das Escolas de Samba, para este carnaval. Menos tempo de desfile, agora são 75 minutos para cada agremiação. Um carro alegórico a menos, são 6 por escola. Menos paradas para apresentações para os julgadores, apesar de continuarem existindo 4 cabines de julgamento, as duas centrais estão no mesmo ponto. Um novo horário, agora começa às 22 horas a festa no Sambódromo Darcy Ribeiro, a mítica passarela carnavalesca carioca, na Marquês de Sapucaí.

Infelizmente quem vê o desfile pela televisão continuará sem assistir a íntegra da apresentação das primeiras agremiações. E olha que as alterações se justificavam justamente para que, ao contrário do ano passado, as escolas que abrem a festa no domingo e na segunda-feira de carnaval pudessem ser transmitidas para o Brasil e o mundo. Serão, mas parcialmente.

Domingo é dia de índio, música e comedia 

No domingo o Paraíso do Tuiti, campeão da Série A do Acesso, abre o Desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro. “Carnavaleidoscópio Tropifágico”, enredo de Jack Vasconcelos, homenageia o Movimento Tropicalista. O carnavalesco já avisa: “o enredo não é político”.

A levada continua musical, porém, levantando a poeira do Axé da baiana Ivete Sangalo na única homenagem a uma personalidade deste ano. A Grande Rio vem com “Ivete de rio a Rio”. A proposta de Fábio Ricardo passeia pela vida da cantora.

Quando, no início do ano, videntes disseram que a Grande Rio, a Beija-Flor e a Imperatriz Leopoldinense estariam no páreo para o título de 2017 foi uma surpresa. Para começar, as três desfilam no domingo e, de 2.000 para cá, apenas a Vila (2006) e a Tijuca (2010) ganharam o título no primeiro dia de competição. A campeã costuma sair das escolas que se apresentam na segunda-feira.

“Kararaô’ diz o grito de guerra da guerreira da Imperatriz em defesa do Xingu
“Kararaô’ diz o grito de guerra da guerreira da Imperatriz em defesa do Xingu

Logo depois, a polêmica provocada pelo “Belo Monstro” e outros detalhes do enredo da Imperatriz Leopoldinense a colocaram em evidência. Xingu, o clamor da floresta” desagradou o agronegócio. Foi bravamente defendido por seu criador Cahê Rodrigues que, com o apoio do presidente Luizinho Drumond e da comunidade, manteve o projeto original. A tentativa de censurar ou modificar a proposta acabou saindo pela culatra. Popularizou o tema, mexendo com os brios dos componentes da escola de Ramos. Índio quer espaço e, se isso divide opiniões, a Imperatriz contrabalança com uma unanimidade: o retorno de Luiza Brunet como Musa à passarela do samba.

“Vila, azul que dá o tom da minha vida…” o enredo “O Som da Cor“, de Alex de Souza produziu um dos melhores sambas do ano, interpretado por Igor Sorriso e a Suingueira de Noel. A escola tenta se reerguer após chegar a anunciar que não participaria do carnaval por ter tido suas contas bloqueadas na justiça ano passado. Vem prometendo Kizombar.

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Integrantes da Comissão de Frente da Divina Comédia Salgueirense do Carnaval

O Salgueiro continua por ali. Loucos para “morder” mais um título, Renato e Márcia Lage desenvolvem o enredo “A Divina Comédia do Carnaval” enquanto, nos bastidores, se comenta que o carnavalesco teria fechado com a Unidos da Tijuca para o próximo ano.

A noite termina com a Beija-Flor e “A Virgem dos Lábios de Mel – Iracema”. Uma das novidades da comunidade nilopolitana será a ausência de alas, já adiantou Laíla, coordenador da comissão de carnaval. Um alerta. O samba, puxado por Neguinho da Beija-flor, é um chiclete daqueles que não sai da cabeça nem os sonhos mais exaustos de quem voltará para a Sapucaí para o segundo dia de desfiles…

Só com a ajuda do Santo, Mangueira quer o bi

Marrocos aos USA nos rios do tempo da simpatia Pensar mal disso? É segunda!

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Casal de porta-bandeira e mestre-sala da Ilha: Dandara Ventapane e o Estandarte de Ouro 2016, Phelipe Lemos

O carnavalesco Severo Luzardo estreia no Grupo Especial apresentando o passado, o presente e o futuro sob a ótica africana do candomblé da nação de Angola, dos povos Bantos, “puxado” por Ito Melodia, no enredo “Nzara Ndembu – Glória ao Senhor Tempo“.

Depois da festa de encerramento das Olimpíadas, Rosa Magalhães se debruçou sobre a preparação do carnaval da São Clemente. Tenta falar aí: “Onisuáquimalipanse” Traduzindo: Envergonhe-se quem pensar mal disso. E vamos esperar para ver o que a carnavalesca campeã das campeãs trará para a Sapucaí.

Abre-te Sésamo que o samba ordenou: vindo lá do Marrocos de Padre Miguel, “As Mil e Uma Noites de uma ‘Mocidade’ prá lá de Marrakesh”, apresenta um ótimo samba para embalar o enredo das arábias de Alexandre Louzada e Edson Pereira.

A vice-campeã de 2016, Unidos da Tijuca falará sobre música, a americana. “Música na Alma, Inspiração de uma Nação”, e dá-lhe variedade! A sinopse do enredo da comissão composta por Mauro Quintaes, Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo, tem até um glossário para explicar termos e estilos musicais dos USA.

E aí, vem a Portela, num ano conturbado com a morte de seu presidente Marcos Falcon. O vice, Luis Carlos Magalhães teve que se desdobrar para administrar o projeto de carnaval. Já em 2017, por exemplo, foi trocado, por exigência do carnavalesco Paulo Barros, o comando da comissão de frente! Mesmo antes do desfile, seu enredo já é realidade para os portelenses:“Quem nunca sentiu seu corpo arrepiar ao ver esse rio passar”. As chances de um bom resultado aumentam com o fim do mandato de Eduardo Paes, portelense assumido e um pé-frio daqueles. Em 8 anos de torcida e apoio declarado a escola de Osvaldo Cruz não conseguiu chegar ao título.

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Só com a ajuda do Santo a Mangueira quer bi. Mestre Rodrigo Explosão roga aos céus no ritmo da Bateria da Mangueira. A Rainha Evelyn Bastos, cuida do resto….

A última escola a desfilar confirma a regra por ser exceção. Só os mangueirenses mais apaixonados apostavam no título conquistado em 2016 pelo jovem carnavalesco estreante no Grupo Especial, Leandro Vieira. Diante das previsões dos videntes, novamente, ele corre por fora. Nascido e criado para vencer demanda, cercado de todas as proteções imagináveis, conta com muita força lá de cima! Leandro avaliou suas possibilidades de chegar ao bicampeonato até no título do enredo verde e rosa. “Só com a ajuda do Santo”.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É carnaval”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Ordem dos desfiles:

Domingo: Paraíso do Tuiuti, Grande Rio, Imperatriz, Vila, Salgueiro e Beija-flor

Segunda: Ilha, São Clemente, Mocidade, Unidos da Tijuca, Portela, Mangueira

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Edição Enock Cavalcanti

Diagramação Luiz Márcio – Gênio

 

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