Texto de Valéria del Cueto

A memória da gente é uma coisa muito engraçada. Tá lá, dormindinha. Mas basta uma faísca para ser detonada e aí, vira um turbilhão. Então, imagina quando a gente cai dentro de um lugar que conhece muito bem, mas não frequenta há quase 30 anos. Pode falar, eu sei que estou trazendo a público minha vasta experiência de vida mas, nesse caso específico, além de não me incomodar, ainda sinto um baita orgulho das minhas peripécias sul-riograndenses.

Bem, voltando às tais memórias. Na minha viagem pra cá, havia feito um joguinho, pra passar o tempo, revisando as coisas que me lembrava dos pagos. E eram muitas! Mas diante do que estava por vir, elas, as lembranças, naquele momento, eram apenas uma marolinha. Não imaginava o tsunami que estava para acontecer. (não sei onde ouvi esta comparação)

Claro que reencontrar parentes e amigos poderia ter sido a faísca para acender o rastilho do paiol da caixa de Pandora que explodiria. Amigos fiquem sabendo: o que provocou a hecatombe foi a pista de desfile.

Já contei pra vocês, acho que no primeiro artigo que publiquei aqui no Tribuna que narrei um desfile de carnaval para a Rádio Charrua na década de 80. Pois voltar a mesma bat situação, e sentir o mesmo bat arrepio, diante da expectativa da entrada das escolas de samba uruguaianenses, foi muito, muito emocionante.

Na minha cabeça, passou um filminho muito veloz cujo som ambiente eram os aplausos à escola que se apresentava na hora. As duas situações se juntaram e foi como se não houvesse se passado trinta anos. Senti como se tivesse, no máximo, perdido um ou dois carnavais…

Sabem onde quero chegar como essa looonga introdução? Numa constatação que parece estar passando batida nesses tempos de exaltação ao carnaval de Uruguaiana.

Ele não nasceu ontem, não se fez nos últimos anos. Já era grande. E se fez grande pela participação efetiva e apaixonada de um elemento essencial: a população da cidade. Ela é o componente mais importante da festa. Sua paixão, quer dizer, suas paixões pelas escolas, transcende o tempo e ultrapassa, agora, as fronteiras do estado. São as famílias uruguaianenses e o amor que dedicam à Cova, Rouxinóis, Marduque e às outras escolas que fazem pulsar os corações. Basta andar pela pista para ser energizada por esta força apaixonada.

Gente de fora? Atrações vips? Tudo bem, o quesito pode ser importante nos tempos atuais. Mas não é definitivo, conclusivo, nem eterno. Quem sabe se, daqui a muitos anos, os critérios de excelência de consumo não serão outros? A transmissão ao vivo uma coisa tão antiga quanto o telex (você, lembra dele?) que usávamos para mandar as notícias para Porto Alegre e o mundo, nos tempos que tínhamos linhas transportando as informações.

Mas já, naquela época, transmitíamos o desfile “ao vivo” pela TV Uruguaiana e quase apanhávamos dos torcedores, caso houvesse um pingo de tendência em nossos comentários. Se estes fossem equilibrados, então o risco então vinha de todos os lados. Muita gente está aí pra contar essas histórias. Profissionais que tive o prazer de reencontrar nos últimos dias.

Enfim, plagiando a escola campeã do Rio de Janeiro, o Salgueiro, meu recado é o seguinte: o carnaval de Uruguaiana não tem que ser o maior nem o melhor do interior do país. Apenas diferente, U R U G U A I A N E N S E !

PS: Não posso deixar de registrar aqui, que ALGUÉM é responsável por este artigo e o prazer que sinto em poder estar aqui todos vocês. A culpa é do Fred. Qualquer coisa, se alguém tiver algum reparo às minhas palavras emocionadas e muitos gratas, cobre dele!

Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval

Material produzido para a série Sem Fim… no carnaval 2009

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