Mais amor, por favor!

Texto e foto de Valéria del Cueto

Gosto de escrever textos leves, engraçados e, mesmo nas piores situações, poéticos. Mas tem hora que não dá para ser nessa levada. É preciso falar sério. Este é o caso. O papo tem que ser reto.

O assunto começa no carnaval. Mas o tema desse enredo, não é exatamente propício para o ambiente da maior festa popular do mundo. Uma festa carioca, popular,  plural! E famosa por não aceitar ali, qualquer forma de censura.

O maior exemplo é o espetacular episódio do Cristo Mendigo coberto por ordem judicial a pedido da Igreja. Foi revelado pelo povo do samba em plena Sapucaí no desfile da Beija-Flor na comemoração do seu campeonato. O enredo nilopolitano de Joãzinho Trinta, em 1989, era “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”. Captou? A sequência narrada pelo querido Fernando Pamplona, cujo link faço questão de colocar aqui, é inesquecível.

Telefone sem fio

Dito isso, vamos brincar de telefone sem fio. Aquela brincadeira em que uma pessoa diz uma coisa no ouvido da outra, que repete pra uma terceira, que manda no pé da orelha a informação pra frente. Do outro lado da linha, alguém diz em voz alta o recado que recebeu…

Nas primeiras manifestações, o tom usado para “discutir” o  enredo da Imperatriz Leopoldinense “Xingu, o clamor que vem da floresta, já indicava que  ia “dar ruim”. A senha, desde o primeiro comentário, era: vamos brigar, xingar, partir pra dentro. Assim.

Não demorou para que as informações desencontradas e incorretas tropeçassem nas próprias pernas. Após o apelo, que funcionou como um tiro perto de uma boiada, começou o achismo e, com ele, bateção de cabeça.

Exemplo? Alguém “pesca” na rede a informação de que os queridos Zezé de Camargo e Luciano eram convidados do carro de som da escola de Ramos. Alvo achado, mira feita e tiro dado. A patrulha botou as manguinhas de fora e, ouvindo o galo cantar sem saber onde, “patrolou” a dupla sertaneja. Diz nota oficial do Pres. do Sindicato Rural de São Gabriel e Vice Pres. da Farsul, a Federação de Agricultura do RS:

“…Curiosamente, o site da escola anuncia como “puxadores” convidados, os artistas Lucy Alves e Zezé di Camargo & Luciano. Ela, que faz música com sotaque rural, e eles, que nunca recusam oportunidade de faturar em exposições-feiras, como a de São Gabriel, no ano passado. O músico e produtor Zezé pode até achar bonito o discurso que coloca o produtor rural como inimigo do indígena, mas imagino que não coloca suas terras de Goiás à disposição da União para fazer reservas indígenas. E viva o Brasil do Carnaval, da ignorância histórica e da desinformação

Mais amor, por favor

A resposta veio do próprio Zezé de Camargo. O texto não está completo por falta de espaço. Basta dar um “google” para lê-lo. Diz ele, entre elogios ao setor:

 “ …fiquei surpreso ao ser citado, ironicamente e de forma equivocada, pelo presidente do Sindicato Rural de São Gabriel Vice Presidente do Farsul.

Caro Sr Tarso Teixeira, também é ignorância afirmar o que não se tem conhecimento. Nunca fui convidado para ser o puxador do samba enredo da Imperatriz Leopoldinense. Nem eu nem o meu irmão Luciano. Tenho muito carinho pela escola que homenageou a minha família no ano passado. Mas não temos ingerência sobre temas que a Imperatriz possa criar e abordar. Se tivéssemos, garanto com toda a convicção, que mostraria aos membros da escola que a maneira como estão colocando o agronegócio não condiz com a realidade…

…E como quem faz alegria vive de magia, é fato que não existe maldade na homenagem, mas falta de informação. Cabe então, a nós, simples mortais, porém que conhecemos este outro lado da moeda, mostrarmos para os criadores do samba, em tom de paz (não de guerra) que a nossa Terra se faz com a força e garra daqueles que produzem o espetáculo que reluz diante de meu Brasil gerado pelo agronegócio.”

 Depois dessa “aula” sobre diálogo e gentileza, segue a novela com direito a fervura até o dia do desfile. Nas cenas dos próximos capítulos o senador Ronaldo Caiado promete uma audiência no Senado Federal para fazer uma devassa nas contas da agremiação carnavalesca que ousou desagradar o agro. Parece reprise, não é?

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É carnaval”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Mais amor, por favor, no Diário de Cuiabá

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