Teu cenário é uma beleza!

Mangueira. Passado, presente e futuro. Os filhos fiéis celebram os 90 anos da verde e rosa.

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Não sou a única que está assim. Procurando palavras. Sem encontrar uma forma adequada para expressar seus sentimentos sobre a Estação Primeira, a de Mangueira.

Não sei se foi minha primeira estação, tão volátil e inconstante que sempre fui nos meus (grandes) amores. Uma coisa tenho certeza. O verde e o rosa sempre estiveram ali. Natural e simplesmente.

A vida que me levava largou minhas lentes por lá. Por felizes coincidências e amizades muito especiais um dia aportei no Palácio do Samba. E, na curva da entrada do palanque daquela bateria, fiz morada.

Mas daí a conseguir sintetizar essa sensação vai uma longa distância. Uma distância que, certamente, ultrapassará os seus atuais e tão comemorados 90 anos de existência.

Não fui a única a quem a inspiração faltou. Vi muitos mangueirenses pescando palavras e juntando lembranças para tentar descrevê-la ou traduzi-la.

Quer saber? Desisti enquanto era tempo e voltei as energias para captar em imagens o que marcou as celebrações do aniversário no sábado, 28 de abril de 2018.

Visto assim do alto

Céu claro e tempo aberto na noite da véspera, dia de missa rezada no alto do Corcovado. Vários monumentos cariocas, inclusive o Cristo Redentor, se vestiram com o verde e rosa da “maior escola de samba do planeta”, como anunciava Luizito, seu saudoso intérprete.

Alvorada lá no morro

Na manhã de sábado a alvorada começou às 8 da manhã e juntou a comunidade na quadra.  O hasteamento das bandeiras ao som de uma banda militar uniu as famílias fundadoras, diretoria, baluartes, velha guarda, crianças e jovens dos inúmeros projetos sociais da Mangueira. Passado, presente e futuro reunidos no café da manhã, depois da queima de fogos.

Hora de alimentar as energias e elevar o espírito trazendo bons fluidos com a lavagem da quadra e das escadarias do Palácio do Samba. Baianas paramentadas da escola, ao som de atabaques, abriram os caminhos e pediram benção aos orixás.

O descerramento de uma placa homenageando os fundadores ao lado da muda de uma mangueira que será plantada no espaço e a distribuição do calendário comemorativo dos 90 anos encerraram a manhã.

Festa na favela

A pausa durou pouco. Logo a quadra começou a encher para a feijoada de comemoração. Mangueirenses ilustres como Alcione, Beth Carvalho, Nelson Sargento e a Velha Guarda dividiram o palco com convidados. Ferrugem, Teresa Cristina e Roberta Sá passaram por lá.

 Batuque no porto

Não dava mais para se mexer no Palácio do Samba quando uma comitiva composta por representantes da diretoria, ritmistas e o segundo casal de mestre sala e porta bandeira partiu para o Museu de Arte do Rio, o MAR, na Praça Mauá, região portuária carioca. Uma participação estava prevista para a abertura da Exposição “O Rio do Samba, resistência e reinvenção”.

Um manto verde e rosa ornamentava o teto projetado do edifício. Em frente, do outro lado da praça, na beira da Baia de Guanabara, as mesmas cores desenhavam a estrutura do Museu do Amanhã.

No retorno ao reduto mangueirense o presidente Chiquinho apresentava a equipe e anunciava as contratações para o carnaval 2019. Marquinho Art Samba, o novo intérprete, foi muito bem recebido pela comunidade.

O som dos seus tamborins

Cansou? Ainda não era hora de encerrar a festa. A feijoada deu o tempero, mas ainda faltava um toque mangueirense para firmar a celebração. Era a batida inconfundível do surdo um. A que marca o ritmo da primeira ala.

Mestre Wesley não se fez de rogado ao assumir, pela primera vez, o comando da bateria. Quando a cortina com o símbolo máximo da Mangueira que escondia o espaço e o palanque da bateria se abriu, o que se viu, ouviu e sentiu foi a essência verde e rosa, o coração pulsante do morro da Mangueira. Em sua mais completa tradição…

Se depender do alcance de suas batidas e das vozes apaixonadas de seus componentes, além desses 90, serão muitos, muitos anos de glória. Salve o povo da Mangueira que, por ela, tem um amor que nunca tem fim.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É Carnaval”, do SEM   FIM…delcueto.wordpress.com

Edição Gustavo Oliveira
Diagramação Luiz Márcio

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